Ninguém ensinou sua avó parir.
Mas você precisa aprender!

Por Dra Dafny Fernandes

Dra Dafny Fernandes com 32 semanas de gestação à espera do parto.
Dra Dafny Fernandes com 32 semanas de gestação à espera do parto.

Cesariana não é uma condição hereditária. Assim como parto vaginal também não é. A história do nascimento se vive única e exclusivamente dentro de cada um. Sua mãe pode ter tido cesariana, mas muito provavelmente sua avó não. E sua bisavó pode inclusive ter tido filhos naturalmente em casa, com poucas ou nenhuma intervenção.

Mas, o que aconteceu no meio do caminho que a cesariana passou a ser um processo melhor e mais seguro? Ao mesmo tempo que ouvimos que muitos familiares nasceram em casa, ouvimos também que muitos bebês e mulheres morreram “no parto” ou até que se completasse o “mal de sete dias”. Também ouvimos que algumas alterações do crescimento e desenvolvimento do bebê é “por conta do parto” ou “porque demorou para nascer”.

Então, foi a intervenção médica que tornou o parto um processo seguro? Talvez não. A indústria do parto cria uma sensação iminente de fracasso. Ela mostra a você que parir requer um esforço e um risco maiores do que aqueles que existem em um processo fisiológico. Por ser um evento que “parece” ser controlado, parece também ser mais seguro. E, sobretudo na cesariana, por ter hora marcada para iniciar e terminar, é mais rentável para todo o sistema. Eventos inesperados, mesmo que fisiológicos, exigem que a equipe esteja de prontidão por um longo período de tempo. E isto onera o sistema.

Para evitar o risco e o fracasso, você precisa então investir e aprender um evento fisiológico. Há aqui a inversão de ação. Não podemos “esperar” acontecer um processo fisiológico. Você precisa estudar, questionar, escutar suas necessidades e planejar detalhada e cuidadosamente sua história para que aconteça da forma como sempre deve ser.

E se sua história transcorrer de forma absolutamente normal e sem intervenção médica? Quando tudo der certo no final, estando em um local que estava preparado para os maiores riscos, pode ainda haver uma dificuldade de comemorar o parto como um estado habitual de permanência da vida humana. O medo do fracasso é tamanho que, quando se consegue o nascimento que pretendia, comemora-se dizendo “ainda bem que deu tudo certo”. Talvez estejamos em um sistema em que o medo do sucesso é tão grande que estamos na permanência de um estado de impotência.

Como seria viver a vida em um estado de confiança? Precisamos confiar que tudo que temos é tudo que precisamos. Sejamos sábios para compreendermos que tudo que precisamos é tudo que temos. A violência obstétrica começa, antes de tudo, dentro de cada um, quando ignora-se o fato de que o sistema rentável de parto que predomina hoje no cenário brasileiro é massacrante e dominante. A conscientização do processo fisiológico com a finalidade de evitar intervenções desnecessárias do sistema vigente deve ser intensa e contínua. É necessário saber onde se quer chegar e em quem se pode apoiar. E acredite: há mais percalços durante esta caminhada do que se pode imaginar.

Não importa se você escolherá parir no hospital, em casa, agendar sua cesárea ou qual equipe você terá no dia, o importante é você ter informação para escolher cada detalhe. Não há escolha consciente sem informação.

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